só é mesmo adeus
quando não dito
quando desdito
quando, feito silêncio,
inexistente
é permanente
um adeus nesse abismal silêncio.
i
y me dejes creer
que serás dulce
hasta el morir del invierno
hasta nacer la primavera
y ven morirte en mis brazos, Septiembre
Acordou cedo para observar a cidade.
Sentia-se só,
sentia-se todo.
Sentia frio e sentia-se.
Alcançou o cume do arranha-céu,
e caía. Caía como chuva que cai do céu,
sentia. Sentia-se poça,
sentia-se esgoto,
sentia-se parado. Sinal fechado.
Onomatopeias urbanas,
batimento cardíaco,
dor de garganta,
febre.
Dormiu no porta-malas.
e daquilo que fora castelo
não restava pedra sobre pedra
era dor cobrindo dor
grito cobrindo grito
sangue perseguindo lágrima.
Quis ser marginal.
Sentou sobre o muro, num pequeno vão: ao lado do portão, entre o arame farpado, a cerca elétrica e os cacos e garras afiadas da fortaleza. Quis. Por querer, fez-se. Era um marginal. Sorria e assobiava, gatuno? Não, apenas sorria. O muro era encardidamente branco. Ou era daquele tom de cinza tão urbano -- cinza-cocô-de-pomba, cinza fuligem, cinza urina dos cachorros, vira-latas e bêbados, cinza anúncio de búzios, cinza anúncio de publique aqui, cinza tão puro e simplesmente sujo do branco.
De sua marginalidade escapava poesia. Era marginal, naturalmente apolítico -- como todo humano, como todos os homens e por isso lutava. Fora criado num ambiente naturalmente a+humano, a letra a negava muitas vezes. Lutava com a palavra e contra ela. Dentro de sua cabeça e no muro, lutava. Guerreava contra sua própria pobreza. Era pobre sua alma, felizmente, porque nunca enriquecera.
Riscou no muro: ao lado do encanamento, entre a janela, o tijolo mal pintado e o azulejo que marcava o número da casa. Riscou ao subir, apenas seu passo. Com a sujeira do chão nos pés, sujou como se o muro fosse chão. Não via problema em ser marginal: sorria.
O que queria daquela vida? Precisar é preciso, e precisava tão pouco. Precisamente preciso. Pontual. Lá de cima observava quieto, e gritava por dentro. Pra quem? Pra rua que encontrava a avenida e desaguava no mundo, delta das ruas onde desembocava os esgotos. Dava tudo no mesmo. Seguia a pipa que dançava no céu. Não a achava livre. Uma corda a prendia na terra. Por isso estava irremediavelmente humana nos céus. Enroscou-se na árvore e caiu no telhado da casa do muro dos cacos. Cada coisa pertencia a outra para virar coisa só. Pegou a pipa, desceu e cortou a mão no caco.
Ao lado da pegada e entre todos os elementos tão dignos do muro deixou a marca vermelho rubro de sua mão. O escarlate de sangue escorreu tão vivo na parede morta que por um instante permaneceu humana. Se fora humana, padeceria.
A parede sorriu e foi embora manchada de sangue com sua pipa.
Desgraçadamente fria e despreocupada.
Não por falta de preocupação, mas de sensibilidade.
Não por falta de tato,
mas de olfato e paladar.
Mais por fome que por sede.
Mais por medo que por deleite.
Quis.
Pura e simplesmente.
a noite estava irrequieta
o que o asfalto perguntava
o pneu do carro respondia
os saltos da dama respondia
os passos bêbados respondiam
as patas vira-latas
o caminhar dos ratos
os diamantes dos ladrões
os ladrões de amantes
os fantasmas dos atropelamentos
o pousar das misérias poucas
os muitos restos de misérias
tudo rastejava
e nem uma gota sequer
de substância primordial.
Havia vida:
e — mas? — todos viviam uma só.
Havia veneno nas veias,
nas vias
a noite rastejava pela madrugada
ia, viscosa, mas lépida,
porque logo amanheceria.
Vejo na despensa da minh'alma
irrequietas
cerezas em conserva de saudade
todas nadando no vidro transparente,
olhinhos de chuchu vermelhos, na calda vermelha.
Ri quem não tem colírio (e nem nariz).
A musa − vermelha e dentuça − iluminava às segundas-cálidas-feiras.
Utinga veste o manto alviverde − imponente?
gogó de enfeite desceu pro pulso, amante latino,
uns dedos de moça de quem sabe tocar piano.
Só porque a receita do bife leva ajinomoto,
torrada aqui é feita de pão doce e orégano.
urbana a legião, cantava na linguagem que só os cães entenderiam.
− Sabe onde estamos?
Mudos falavam e comemoravam aniversários. Truco.
Amigas − não minta − odiavam-me: e todas hão. Seis.
Não me chames Clarice, nem Veríssimo, nem Ono. Nove.
F do carre*our apagou. É doze.
Regdur emprestava-lhe a sunga. Blefe.
Estava com a camisa vermelha sob o manto estrelado das Américas.
Di era o último a sair, chocolate na testa,
infantil I: reprovação.
Na-na-na-nanananaaaa*
Instante, roda gigante, aperto no coração.
Vida? − urge por transformação. LET IT BE.
Iríamos ao parque de diversões,
− Tudo bem, querida? − e depois,
apresentar-me-ia os narizes mais altivos! Num parque mais além,
lá onde guardam os segredos dos cinéfilos fazedores de ciências sociais.
Bom ombro tem, sabes que tem! E guardo para ti o meu;
− e me ensinou: lá dentro do peito, silêncio é bom também −
seria a voz (desafinada) da tua bondade ecoando:
− Sabe onde estamos? − tudumpás
alegra-me, cereza!, cante mais uma e nunca vá.
* ps 1: mais tarde, em mente e em coração, mudaria o verso para "Não fazes ideia da importância que tens pra mim, sim?", mas por questões satíricas, Hey Jude seria mais apropriado. Te amo. Obrigada por tudo, Victor Augustus Manfredini Vital Bessa.
ps 2: Se vier a reencarnar, nasça com um nome menor, não aguentarei outro acróstico-epopeia.
(para Danielle Takase)
"Se eu disser que vi um pássaro
Sobre o teu sexo, deverias crer?"
Hilda Hilst: Do desejo
É tarde, a noite nasce
Na salinha de livros, encontro-te debruçada
Em cima de uma leitura longa
Longínqua sensação, quietude
Os olhos fechados como riscos sutis,
Exuberância até no despertar,
Como quem só dissimula o sono, e não dorme
Imensa a noite cravada na salinha
Quando me diz de teu amor
Livros
Arrumados na estante e desarrumados dentro de ti
As capas trapaceiam, são meigas
Ah! Ansiedade em agarrar o instante
Em que pousas dócil em cima das páginas
Enquanto crianças na rua brincam, eufóricas
Toda essa implacável inocência me constrange
Autonomia descompromissada de um pássaro
Assim, a levantar vôo quando começo o romance
Sombras, inacessível teu rosto na salinha
Corpos
Invadem o cômodo, provocam a eternidade
Minha vigília agora desconcertada e uma falta de ar
O pássaro, negro de tanto querer, pia sermões de libertinagem
Dilacerada qualquer ilusão, corruptível o anjo nu, ninguém imune
Arrepiada até a virgem do quadro que, imóvel, assiste ao ato
Todo o tormento torna-se bom, o pássaro assim livre
Gemidos ecoam em todas as páginas, como é que foram rasgar?
Opressivo, o duelo já é mais que hábito
Necessidade maníaca de ser/ler, mesmo quando fecho o livro
Risos
Enquanto conto tais sutilezas do pensamento, me confortas:
''Poesia é beijo de mãe antes de dormir / Quando ela está ausente''
Desfila pela salinha com o livro de poemas, provocativa
Batalha que recomeça agora com o sabor do real
Diz mais: ''Imundo, este mundo que habito / A letra sem alfabeto''
Não aguento a educação, quero a dança dos corpos
E quem se propõe a desfrutar da salinha, precisa também ser vítima
Mas erro o gesto, poesia não é beijo de ladrão
Ela corre, em fuga...
Por Renato Virginio
I
antes de conocerte, extraño,
todo era silencio.
ahora − conocéndote, extraño,
eres palabra muda
y ya te extraño.
tu eres el poeta que nada dice
y nada a mi me dirás
porque ya es mi poesía,
te digo, te siento
te extraño.
pues que hace frío y el calor se extraña
y mi piel te extraña
y mis labios te extrañan
y ya no me extrañas
porque me hay olvidado
y olvidada, te extraño
y yo extraña, te olvido.
Tarmac - Volar .mp3 | ||
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"Porque es obligatorio
obedecer al invierno,
dejar crecer el viento
también dentro de ti,
hasta que cae la nieve,
se unen el hoy y el día,
el viento y el pasado,
cae el frío,
al fin estamos solos,
por fin nos callaremos.
Gracias."