Enganada pelos próprios olhos. Seu corpo ia para frente, seus olhos, mesmo olhando nessa direção, enxergavam o caminho deixado para trás. Olhos turvos, úmidos, atarantados. Os pensamentos diante de tantas direções corria contra todas, ou a favor de todas. Sem direção, sem sentido. Nada fazia o menor sentido.
Mas talvez a física pudesse explicar. Refração da luz e reflexão.
O vidro que outrora a protegera de olhares, a camuflara entre outros corpos e outros rostos, que denunciara a subversão alheia, o vidro. O vidro, como sempre, não transparecia. Seu encantador semitransparecer lhe concedia a possibilidade de observar a tudo, todos e mais além. Era uma dádiva concedida a todos, mas nem todos haviam se dado conta. Mas o céu lhe segredara algo.
Uma visão incomum. Um conselho das nuvens: usar e ousar da perspectiva que só ela possui. Nuvens que desmanchavam-se com frescor. Tapavam o sol que florescia, ardia, mas não convencia. Tentava escapar pelas entranhas das nuvens e seus raios eram tanto quanto modestos. Mas isso havia ficado para trás. Espelho de um passado contemporâneo. Os lados denunciavam um pano de fundo completamente azul, entre anil e calcinha.
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Em extremos, seus iguais (mais conhecidos como azul marinho e azul royal) agora a observavam e incompreendiam e relevavam. Ressaltavam. Cochichavam. Como se o vidro não os denunciassem, pobres parvos. Assunto? Castigo: cinquenta chibatadas para quem não adivinhar. Esqueçam as chibatadas.
Afinal, seria só mais um longo ensolarado dia de novembro. Mas alguém me disse, há certo tempo, disse que há uma calmaria antes da tempestade, I know. Mas você já viu a chuva cair num dia glorioso?
Oh, novembro, vá-se embora logo. Ninguém precisa de você.
(05/11/2010, sexta-feira)