Ela era só uma mancha azul e pontos verdes nos reflexos de qualquer lugar. Decidiu desafiar a si mesma, se privando de ouvir qualquer conversa paralela e por alguns instantes viver num mundo só dela. Um mundo somente seu, através do espelho. Quando essas palavras eram originalmente dela, soavam estranho. "Do outro lado do espelho existia um mundo". Talvez seja uma coisa que esteja no inconsciente de todo mundo, ou fôra somente outra coincidência entre ela e o filósofo. Assim como a verdade nua e crua. Ou talvez assim como Sofia ela estivesse vivendo num mundo na mente do filósofo. Tudo tão intensamente real... Talvez fosse a hora de colecionar algo diferente.
Curingas à parte, não é sobre isso que se tratam essas palavras. É sobre uma conversa que a perturbava e não a deixou concentrar-se no enigma dos espelhos.
"Você pensa como eu...", depois de uma troca de segredos. Ela esperava algo assim. Ela temia algo assim. Na verdade, já havia calculado todas as possibilidades.
Quando o lápis caiu e foi girando lentamente, como se zombando da cara dela, para a frente do ônibus. Ela não queria se levantar. Era mais fácil esperar ele voltar, do mesmo jeito que havia ido. Mas ela foi atrás assim mesmo. Afinal, com que se compararia o lápis, a queda, a ida, a volta?
"Discorde!", algo gritava dentro dela. "É...", foi a única coisa que expressou. Mas o que supor que ele quisesse ouvir? Ele queria que ela negasse? Havia ele colocado tanta expectativa naquela conversa quanto ela? "Nem sempre", arrependeu-se.
Antes era tudo bem separado: café, leite. Depois que o conheceu, não foi a mesma coisa. Já vos disse isso. "Sabe separar as coisas". É. Suponho que ninguém entenda. Mas é...
Não foi confortante, creio que para ambos os lados, ouvir aquilo. Mas houveram outras propostas. Surpreendentemente. Ela ainda calcula as possibilidades. Mas com sua calculadora quebrada, apela para as palavras. Afinal, matemática não é necessariamente tudo. E a expectativa agora é de que a matemática, as possibilidades, as palavras, tragam-na uma surpresa. Esqueça a expectativa.
Ninguém mais a observava. Hora de sair de seu mundiinho.