Domingo, 22 de Agosto de 2010

A Farsa dos Eletrodomésticos - o inquérito

– Os reféns e/ou réus estão prontos, chefe.

– Traga-os.

Amordaçados e amarrados em cadeiras de escritório estavam mãe e filhos.

– Que bom que essa cadeira tem rodinhas – ironiza um videogame que empurra a cadeira onde se senta o menino.

– Argh! – se limita a resmungar o garoto.

– Me respeite, moleque! Te forneci muitas horas de diversão. Acho que está na hora de escutar umas boas verdades! – diz o videogame já alterado.

– É mesmo! Seja lá como sou decodificado, mas faz cócegas! – diz um Cd de jogos.

– Você ao menos tem a sorte de não se ver girar! Se eu tivesse como vomitar, seria esse o momento.

– Girar? Além de cócegas fico todo enjoado e tonto, você só observa e fica fazendo pose e...

– Chega! – interrompe bruscamente o "chefe". Curiosamente o chefe não tem muito mais que cinco centímetros de altura, sabe-se lá como, mas impõe muito respeito. É um benjamim acinzentado com três ou quatro entradas. – Estamos unidos aqui com um propósito! Propósito aquele que vale o esforço qual estamos sendo submetidos. – Sua voz era de um grave e incentivador. Faz todo sentido ser o líder. Mas a empolgação é a de político em comício, aí vem um discurso que talvez tome muito tempo...

O menino ouvia tudo de olhos vidrados e arregalados, como ficavam enquanto jogava madrugada a dentro. A mãe afundava-se na cadeira com o olhar desesperado de quem não entende o que se passa. Já a adolescente tinha uma indiferença mórbida; talvez fosse só pose, que seja.

Após um zunido ensurdecedor o microfone do karaokê já estava plugado em gigantescas caixas de som, numa espécie de púlpito onde ocorreriam os depoimentos.

As tevês se propiciaram a ser o júri – isso porque se julgavam experientes no quesito julgamento, levando-se em conta o número elevado de séries e programas de âmbito policial.

O benjamim assistia tudo atentamente da tomada mais alta, de onde nada lhe fugisse do olhar vígil. Os réus estavam posicionados de modo que poderiam ver cada um dos acusadores – até o barbeador elétrico do marido se encontrava com olhar indagador.

Just for record the weather today is quite sarcastic with good chances of  A: Indifferences and B: Desinterest in what the critics say. It's time for us to take a chance, it's time for us!

– Bravo! Bravíssimo! – diziam ouriçados uma batedeira e um liquidificador louvavam às belas palavras do mycrosystem.

They said it was fabulous – transmitiu o Mp3.

Oh, thank you, my darlings. – ele pouquíssimo entendia o que a maioria dos ali presentes falavam, já que ele era estrangeiro. Dentre uma maioria bem nacionalista, alguns sem conseguir evitar o sotaque espanhol rio-platense, alguns possuem um inglês "whazup" ou robotizado. Há também aqueles aparelhos aptos a comer peixe cru – ou comer pastel na feira, genious.

 

*****

 

Um televisor recém-chegado ao invés de servir como júri, foi convidado a ser a primeira testemunha a depor.

– Eu vejo nas faces desfiguradas e vozes computadorizadamente modificadas palavras e emoções frívolas e rancorosas, dolorosas, sofridas, devido a tamanha perversidade e crueldade inspiradas em programas violentos, sangrentos e maléficos. Vejo seios descobertos como se fossem educativos... Vejo.. Ver não é o verbete mais apropriado: transmito. Recapitulando: transmito fatos manipulados como se fossem as mais puras verdades... Universos paralelos para que vocês emaranhados de veias vejam o sangue escorrer de meus elétrons. Violência?

– Vi o len...ço? – gagueja um radinho made in China, sem quase nada compreender.

– Violência, estúpido! – continua a tevê – Nas minhas transmissões tudo é violência! O futebol é violento, os desenhos violentos, o humor violento, os amores violentos! Logo, tudo que é motivado pela paixão será motivo de guerra! Afinal,  há uma coisa que aprendi nos canais que explicam a vida selvagem: é sempre o maior predador que é o rei da floresta.

aos ouvidos: London Beckoned Songs About Money Written by Machines - PATD
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por Dani Takase às 03:56
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