Elas são apenas tolas demais por se entregarem.
Eles as moldavam como bem entendiam.
Um, costurando-as com suas palavras. Aqueles predicados, só tão abomináveis quanto às más intenções de seus verbos. E ainda dizia não acreditar no amor. Acreditava, portanto, nas pernas cruzadas e nas saias que subiam, velho cretino. Elas, teciam nobres colchas e fronhas, enrolavam-se em cobertas e lençóis. Ele só precisava de remendas nos fundilhos gastos e bolsos rasgados — e que seu zíper fechasse.
"Cada dia sem solidão me enfraquecia. Não que me orgulhasse dela, mas dela eu dependia. A escuridão era como um dia ensolarado para mim."
E com pincel e tinta, outro fazia barbáries. Contrastava as prostitutas e as doces bailarinas, as bêbadas e damas de alta classe. Os saltos altos, as meias-calças, os espartilhos, os penteados. A força e a submissão. O movimento, o corpo. O vermelho vulgar e o rosa casto. Os traços arquejantes das delicadas até as mais ínfimas dançarinas. A audácia e o olhar vazio para uma taça de vinho. A inocência e o olhar curioso às pernas.
Injusto, descobrem a essência das meninas, das mulheres.
Descobrem as cobertas. Cobrem as descobertas.
Faz frio, mas ambos os Henri's as imaginam de mesma forma: "Half-naked and seen from behind".
O que Chinaski e Lautrec teriam em comum é o fascínio, por descrevê-las tão compulsivamente. E ao render-se a elas, às suas negras rendas, seus batons carmim.
E elas continuam tolas. Tolas demais. Por, demasiadamente belas em sua particular doçura, voltarem aos mesmos lençóis. As curvas serpenteiariam no escuro, só seriam vistas seus contornos contra a pouca luz que entra pelas janelas. E ao julgar a arte e a literatura, seriam musas inspiradoras. Seus devotos são também seus carrascos. Contemplá-las-iam, amá-las-iam, deixá-las-iam, no escuro, serpenteando. Em meio ao escuro tanto quanto as próprias seguem nessas mesóclises.
E a Rainha do Deleite não é senão escuro, curvas, carmim e amor.
Referências: Charles Bukowski, Henri de Toulouse-Lautrec.
dois é menor que três,
e de algum lugar ela observava.
por detrás das nuvens,
que odiosas, cediam espaço,
transpassava, passava, sorria,
embora não fosse preciso vê-la para saber que brilhava.
irradiava,
e mesmo que não fosse vista, era lembrada,
porque brilha, e é verdade,
brilha e é universal.
brilha, porque brilha,
tal como dois é menor que três.
Chuva. Frio. Respirar. Embaçar. Dibujar. Ônibus. Trânsito. Rua. Janela. Mensagem. Vidro. Condensação. Melodia. Curvas. Riscos. Gotas. Rosas. Tempo.
Raindrops on roses and girls in white dresses sleeping with roaches and taking bad chances at the shade of the sheets before all the stains and a few more of your least favorite things.
Passa-se o tempo, mudam-se as motivações, mas continuo passando por aquelas portas grandes, enconstada em vitrais coloridos e paredes amarelas. Sempre observadora. Um vazio por não ter uma mão a segurar. Saltei o olho, de banco em banco. "Aposto que está de rosa."
Lá estava ela. Bochechinhas salientadas, queixinho bem desenhado, narizinho que lhe dá um ar esnobe, e claro: uma pesada blusa rosa que lhe parece tão intrínseca, com o contraste de sua doçura e inquietude que tanto me encantam.
Entre ovelhas e pastores, muitos trajavam vermelho. Trajavam vermelho para aquecer o frio de uma manhã dominical, que já é fria só por ser uma manhã dominical. Se bem que há domingos ensolarados. De vez em quando o sol resolve fazer uma visita e espalhar luz colorida através dos vitrais.
Mais um abraço maternal, mais um voto de paz.
E à noite, sem fogueira, sem balões, sem vestidos floridos, coloridos e cheios de fitas. Um frio congelando um copinho de vinho quente. Um ano se passou.
Era tudo sobre ovelhas. Ovelhas, caminhos certos e caminhos errados. Pra mim é tudo sobre uma ovelhinha pegando o caminho errado pra chegar no lugar certo.
Estava tudo tão vermelho, o frio tentava se sobressair...
Um traço corre, escorre.
Um rabisco.
Um risco arisco, arrisco.
Outros cortam a paisagem, rápidos, revoltos, un torbellino.
Os olhos ficavam opacos conforme ela partia.
Ela, como se fosse um pequeno sol de luz própria. Os olhos dele eram duas orbes refletindo a luz de outro astro. E os as orbes ficavam opacas quando seu sol partia. Mas num céu, mesmo que muito escuro, luziam as estrelinhas. Estrela, palavrinha feia, vazia. É por isso que lhes dão nomes. Ele batizou-a com carinho. Sequestrou-a da constelação e a guardou pra si.
A estrelinha caída, cambaleava por um caminho próprio. Sua força atingia-o na velocidade da luz. Era tarde, ele já girava em torno de sua órbita sem se dar conta.
Implodiu.
Let's fade together, let's fade forever...