Meio-dia. Pontualíssimo.
Puxa a cadeira, senta-se a mesa e aguarda. Toma um café puríssimo, pausadamente. Traça o contorno da xícara, tamborila os dedos na mesa. O lugar era ruim. Um restaurante chinês?, japonês?, oriental. Uma decoração pouco convencional e pesada aos olhos. Difícil de se assimilar.
Ela se atrasou.
Qualquer cabelo que esvoaçava ao passar pela porta, não eram os dela. Os saltos que machucavam o chão não tinha o deslizar insinuante de seus passos. Então esperava. E se divertia com os rostos diversificados que seus olhos atentos alcançavam e sua miopia permitia. Os risinhos tímidos das garçonetes de olhos puxados, o espesso respirar do gordo (e fétido) dono do local, os jovens risonhos e patéticos se embebiam em saquê e frutas cristalizadas.
Era um ambiente peculiar. Nem bom, nem ruim. Tanto quanto asqueroso, mas tinha seu lado sublime. As lamparinas traziam a paz e a estabilidade ao local. Era o que mais agradava-lhe ali. As lamparinas e o dragão estampado na parede. E por quê diabos vendem café?
Talvez fossem meio-dia e quinze, meio-dia e meia. Quem se importa? Escondeu o relógio para não ter a quem consultar. Chamou pela garçonete mais meiga. Vestida a caráter, porém com carregada de ocidentalidades — o quimono não cobrira as havaianas.
— Que deseja? — seu risinho estridente deu-se pela resposta sutil e objetiva.
Perde-se entre lamparinas e dragões. Volta com uma bandeja nada rebuscada. Ele, com o pé, empurra a cadeira à sua frente. A garçonete que rebolava mesmo com quimono deixa então o pedido sobre a mesa, conforme solicitado: dois biscoitos da sorte, um para cada lugar na mesa.
Ela parte e ele contempla. Primeiro a garçonete. Depois os biscoitos. Inverte os biscoitos e o abre.
"Não precisaria se sentir uma idiota, não precisaria se sentir o que você não é."
Contempla mais uma vez o lugar vazio. Deixa moedas na mesa. Levanta e deixa o lugar, as moedas, o biscoito e as lamparinas. Não quis saber sua sorte ou fortuna. Julgou desnecessário. Não queria saber porquê não veio. Em seu próprio biscoito encontraria qualquer frase de efeito que conectaria com um fato aleatório de sua vida e tenderia a acreditar que sorte pode ser verdade. "Não deixe as frustrações do dia afetarem suas energias" ou "Belo dia pra gastar seus vinténs com clichês em Arial 12".
Qual era a sorte da garota, somente por não estar ali. E ele queria saber qual era a fortuna dela.
Deixa o recinto.
Não se sinta idiota, ordinária.
— Estas palavras não caberiam num biscoito da sorte, ma chéri. Ladino, não se esqueça de meu café.
Pra falar que o amor não é volátil,
não sufoca, não entorpece,
tampouco mata por asfixia.
Não adentra o peito
congelando nem empedrando o coração
conforme a temperatura diminui.
E é tão repugnantemente puramente inevitável,
que, afinal, até o ódio aspira a amor.