− Uma pena.
− Que é?
− Arrependimento não mata.
− O que esperava?
− Não fazer de tudo metáfora, ironia, plágio, gracejo ou metalinguagem.
− Nem literatura.
− Nem veracidade.
− Nem arrependimento.
− Nem anáfora. Apenas cale-se.
− Cale-se e vá dormir.
Vozes conversando. São muitas. Mais confissões de meia noite. Umas vagamente longe das outras e mais próximas do que imaginam. Sem mais figuras de linguagem. Vou dormir. Com a mesma definição de dormir de muitos.
It seems like once again I've had to greet you with goodbye.
Tarde, nem tão tarde assim.
Missões de meia noite: desacreditar no amor. E convencer a tudo e a todos que amar não é remédio pra nada. Nem cura. Nem doença. Agarrar a tudo com curtos braços. Eram muitas farpas para alguém não se machucar.
São vários aprendizados numa noite. Um único consenso: "amor é uma droga, não?".
Difamar o amor por aí não é algo de que possa me orgulhar, mas faço com prazer e receio. Mas ele fez isso sozinho. Primeiro erro é do coração. Alguém de pequenos olhos puxados a quem eu chamo de 'eu mesma' acaba de fazer uma ressalva. Primeiro erro é estar no cérebro, e não no coração. Racionalizou-se. Sim, o amor tem sua lógica.
Segundo erro: estar no cérebro e ser totalmente ilógico e irracional.
Qual o problema de alguns arranhões? Aquela história de que rosas tem espinhos. Rosas nem são tão bonitas assim.
Tarde, já tão tarde assim, quase cedo.
Missão de amanhecer: convencer-me de que o amor acordou com o sol.
TEXTO MUITO VULNERÁVEL A ALTERAÇÕES EM BREVE.
— Tenho medo de altura.
Interrompeu o silêncio que já durava um tempo. Fez-se silêncio novamente. Entreolharam-se. Ela normalmente desfazia-se de encarar os outros nos olhos. Havia algo em seus olhos. Doces melados esverdeados olhos de girassol. Não tinha porquê não olhar em seus olhos. Aliás, tinha vários porquês. E nenhum porquê que fizesse sentido. Era tudo confuso.
— Na verdade, não tenho medo de altura.
— Just pretend it, babe.
Dadas as mãos. Fez-se silêncio e por que temer o silêncio ou tempo?
Maldita doçura essa sua.
Um diálogo não se faz em silêncio. Linguagem não-verbal. Olhos que falam por si só. Ventos que conspiram. Luz se apaga.
— Tenho... não tenho medo de escuro.
Dá-se mãos.
Maldita doçura essa nossa.
Tenho três minutos para eternizar o tempo.
Em breve 3h14min15seg e segue e eterniza e é infindo.
Mas o tempo não pára. E não respeita a matemática.
E um momento se eternizará. E é o tempo µ.
Desculpem-me,
por ser essa cabeçuda, essa lunática.
essa ladina, ordinária.
oblíqua e dissimulada.
observação: a Lua estava bela.
Observou. Contemplou toda a grandiosidade da cidade. Chegou a uma conclusão.
— Este lugar fede.
Era um desapontamento bom.
uma xícara de mundo,
com mais açúcar que café;
não lhe cabiam amarguras,
um céu negro-café
polvilhado de estrelas-açúcar.
doces e doçuras,
e lábios voluptuosos aproximam-se da grande xícara de mundo
e acabam por embebedar-se.
Ensimesmou-se.
Tinha ares de quem não se importava. Inabalável. Ostentava no rosto um riso, um gracejo. Não de quem se julga superior, mas ainda assim, de indiferença e desprezo.
Oblíqua e dissimulada, dizem.
Em tempos que todos a julgam com maus olhos, não parecia ofender-se, ainda que naturalmente hostil. Algo entre pedra e gelatina. Um pedaço de rapadura.
Doce, seu sabor estalava nos lábios de bons — e raros — apreciadores. Firme, demonstrava algo de insensível. Um devaneio contrastar o rústico e o sublime, uma coisa só.
O calor era tanto que fez-se derreter. De onde vinha o calor — intrínseco à sua vulnerabilidade, não se sabe. Derreteu. Mas o calor não era duradouro, nem eficiente.
Afastou-se. Fez-se frio.
Empedrou. Disforme, ainda que doce. Bela, ainda que disforme. E doce.
E, por fim, fim não seria amargo. Nem propriamente frio, nem acalorado. Nem doce. Indiferente.
Como um pedaço de rapadura.