Sábado, 18 de Maio de 2013

OEDIPOUS

"Atento ao dia final, homem nenhum
afirme: 'eu sou feliz!', até transpor
− sem nunca ter sofrido − o umbral da morte."
SÓFOCLES, Édipo Rei.

Os pés inchados não impediram passos,
não impediram traçar
um caminho
já, pelo destino, percorrido.

A Verdade
fez-se nua sob os lençóis
e crua como o sangue alheio, −
tão alheio quanto teu.

E tão nitidamente insuportável,
vista.
Então, insuportavelmente nítida,
cegada.

A fuga de tua sina trouxe, ao passo, injúria
mataste-o a um só golpe de fúria;
ganhaste um reinado sob o enigma que desfaz.
Não mamaste ao peito,
mas a amaste ao leito
no qual, ela agora jaz.

Ápode, apátrida, patricida,
maldito de Apolo, maldito de si, maldito.
Foste cego a vida toda; agora, sem ver:
enxerga.
Descansa os olhos de tanta desgraça.
A vida se fecha sobre si mesma,
o oco da tua escuridão se preenche eternamente
com a fatalidade do teu destino.

por Dani Takase às 05:32
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m.



Minha mulher inexiste:

não tem face,
não tem paz,
não tem corpo,
não tem voz ou cor,
não tem calor.

não tem vício ou virtude,
lembrança ou esquecimento.

minha mulher não desbota,
não se colore,
não se encoleriza,
não esmaece
não esmiúça.

minha mulher não tem sonho,
repousa.
e é precisa
no contorno;
imprecisa
na existência.

minha mulher
o vento não lhe molda os cabelos
nem a chuva destrói suas tranças
nem o sol lhe doura o decote.

minha mulher é urgente
se ri ou se chora,
se grita ou se cora
nada é parâmetro
pra medir um sentimento
nem gelado nem quente
nem justo
nem abrangente.

Minha mulher é essa −
cravada no espelho.
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por Dani Takase às 05:31
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coletânea de palavras sem sentido

i


um adeus
só é mesmo adeus
quando não dito
quando desdito
quando, feito silêncio,
inexistente
é permanente

um adeus nesse abismal silêncio.




ii
(de farsante para farsante, cada uma na sua arte)

lábios contradiziam-se
no interior que quase sem cor
desabrochava em fortes contornos
um avolumar voluptuoso
à forma da boca semiaberta
ou semicerrada?
e um desbotar acetinado
de pétala em brasa
um ardor doce

[− uma doçura vermelha, menina.]



iii

engasgue! 
com todo o amor que tinha para dar
e definhe
e parta.
não morra, − parta.
parta num gesto
num desafeto sombrio
sem rastro.

não fujo.
contemplo um horizonte, estática,
febril;
disforme,
conforme anoitece
e os horizontes e todos os planos
fundem-se num misticismo sem igual
um céu, por menos estrelado que esteja,
parece distante
entre a fuligem e o sonho.

a utopia deve estar assim
entre a sujeira
e a concretização máxima
das abstrações oníricas.
nem meu sonho é concreto
nem meu real é fumaça:
quiméricos.

pudera eu ser verdade
tão verdadeiramente verdade
tão pura
tão límpida.

pudera ser tão longe
tão fugidia
tão arisca
tão felina
tão volátil
tão seca, tão líquida.

tão sede
tão fome
tão, então,
sendo tão
sem ser tão
?



iv. assassina

num lampejo, um amor saltava
de olhar
em olhar

olhar era a vaga
que se desmancha
beijando areia
de grão em grão

vaga que vagueia
a mão em concha
procura no mar
o gole que não dá.





[todos estes são rabiscos encontrados; são mosaicos de tempo-espaço-instante-amante que podem se desencontrar]
em tags:

por Dani Takase às 05:30
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