Ela respirava profunda e brandamente. O mesmo ar que soprava e desfazia seu penteado. O mesmo ar que acariciava a pele de algum alguém, em algum onde. Levanta os olhos ao céu. Queria ser sugada até lá, só para sentir o calor do sol mais de perto, ou repousar nas nuvens de algodão. O que recebeu foi uma gota que da testa escorreu-lhe pelo rosto todo. E outra gota. E outra. E outra. Gotas fartas, gotas brutas, aflitas. Partem na nuvem em busca de um chão. Talvez cansaram de voar. Talvez a nuvem não seja tão aveludada assim.
Parafrasear clichês de nuvens de algodão. De gotas que caem e se tornam lágrimas. Mas dizer que lágrimas são gotas, é dizer que os olhos são espessas bolitas de ora névoa ora limpidez. Olhos são céus.
Já ele, protege-a da chuva. Tem-na nos braços, envolvida, frágil, vulnerável. Não se vê, não se escuta, não se sente. É de um abstrato mais que substancial. É um abraço que mesmo sozinho, acolhe. E num fechar de olhos a escuridão já é luz. Num abrir de olhos é vazio, solidão. Chuva. Uma gota na testa.