Ela o tirou para dançar. Era um sala vazia com baixa iluminação, mas era como se fosse um salão com holofotes ofuscantes. Mas nada ofuscava tanto quanto os olhos dela. Olhos negros que lembrava os olhos de animal arisco. Os olhos dela iluminavam tudo ao redor.
Força, fúria, fome, flor — ferocidade.
Ele a conduzia com a inocência de estar no comando. Sabia que não o era. Ela acompanhava cada passo com o salto alto e o vestido sutilmente decotado. O vermelho vívido no vestido, no sapato, nas unhas, no batom, na rosa. A rosa. A rosa hora na boca, hora na mão, hora no chão.
Sensual, sedutor, sagaz, sutil, — subliminar.
O ritmo, os acordes, as cordas, ah. As linhas e curvas que o vestido desenhava no ar contrastavam com sombras e pernas e gestos e movimentos precisos. Ela pseudocai. Ele pseudo deixa que ela caia. Está a pouco mais que cinco centímetros do chão, mas não o toca. Ela o empurra. Ele a segura. Ela o ameaça. Ele a segura. Ela o estapeia. Ele a segura. Ela o beija. Ele não precisa a segurar.
O arranhar aos ouvidos dum som envolvente, terno — caliente? A milonga nem sequer acabou. Não vão deixá-la acabar. De ímpeto, de súbito.
É vermelho a cor da rosa, do sapato, do vestido, do batom no pescoço, da unha no arranhão.