"Cuando yo decidí quedarme claro
y buscar mano a mano la desdicha
para jugar a los dados,
encontré la mujer que me acompaña
a troche y moche y noche,
a nube y a silencio."
Neruda foi ao chão.
Com sorte, sorriu para a chuva e escorreu pelos bueiros. Perfuma as fétidas águas da cidade, correndo os canos.
Com sorte, sacrificou-se aos pombos e saciou-os. Agora, corta o vento e segue voo até perder-se de vista. No final da digestão, palavras que escorrem no ombro duma roupa limpa.
Com sorte, derrete ao sol e morre aos poucos. Ora, não seria ainda morte um pouco de vida?
Com sorte, bons olhos pousaram sobre ele, tal como límpidos pensamentos e belos amores. Ilustra, então, uma paixão desenfreada. Sussurra-se ao pé do ouvido, baixo e pausado, sempre-sempre.
Com sorte, foi recolhido e trancado - nas mãos, no bolso, na gaveta, na garganta, no peito. Repousa, solene, em algum canto, encanto.
Com sorte (e que sorte), confundiu-se com outras juras. Entre milagres e falácias. Jurou, que sorte.
Com sorte, despertou um sorriso, desenterrou uma memória, um lampejo de deslumbre.
E (com sorte) alguém inventa agora uma estória.
Neruda foi ao chão.
Na noite, na nuvem e no silêncio.
Ella.
Matilde?, assim se chama?, sempre-sempre, aqui ou ali. Eternizou-se.
Talvez assim o poeta nunca morra. Tem qualquer pedaço de chão um pouco de eterno?
Assim, o poeta não morre.
(Chova ou troveje.)
Assim, o poema respira.
Por fim, silenciaremo-nos.
Gracias.
"(...)
ella,
déle que déle,
lista para mi piel,
para mi espacio,
abriendo codas las ventanas del mar
para que vuele la palabra escrita (...)"