a noite estava irrequieta
o que o asfalto perguntava
o pneu do carro respondia
os saltos da dama respondia
os passos bêbados respondiam
as patas vira-latas
o caminhar dos ratos
os diamantes dos ladrões
os ladrões de amantes
os fantasmas dos atropelamentos
o pousar das misérias poucas
os muitos restos de misérias
tudo rastejava
e nem uma gota sequer
de substância primordial.
Havia vida:
e — mas? — todos viviam uma só.
Havia veneno nas veias,
nas vias
a noite rastejava pela madrugada
ia, viscosa, mas lépida,
porque logo amanheceria.