"Atento ao dia final, homem nenhum
afirme: 'eu sou feliz!', até transpor
− sem nunca ter sofrido − o umbral da morte."
SÓFOCLES, Édipo Rei.
Os pés inchados não impediram passos,
não impediram traçar
um caminho
já, pelo destino, percorrido.
A Verdade
fez-se nua sob os lençóis
e crua como o sangue alheio, −
tão alheio quanto teu.
E tão nitidamente insuportável,
vista.
Então, insuportavelmente nítida,
cegada.
A fuga de tua sina trouxe, ao passo, injúria
mataste-o a um só golpe de fúria;
ganhaste um reinado sob o enigma que desfaz.
Não mamaste ao peito,
mas a amaste ao leito
no qual, ela agora jaz.
Ápode, apátrida, patricida,
maldito de Apolo, maldito de si, maldito.
Foste cego a vida toda; agora, sem ver:
enxerga.
Descansa os olhos de tanta desgraça.
A vida se fecha sobre si mesma,
o oco da tua escuridão se preenche eternamente
com a fatalidade do teu destino.