Quarta-feira, 7 de Dezembro de 2011

... ébria de pó de lua...

Há lá por fora

um luar

que é um divino pecado...

se viesses, meu amado,

se surgisses agora

ao meu olhar,

se me apertasses, trêmula de susto,

ao teu formoso busto...

 

Paira lá fora o luar

a tentar a paisagem,

as almas a tentar;

se viesses, meu selvagem,

com teu querer imperativo e rudo,

com teus modos brutais,

a esta lua macia,

eu tudo

te daria

e mais

e muito mais!...

 

Que seria de mim,

deste meu pobre amor, ai que seria,

se houvesse, noite a noite, um luar assim?

Repara o encantamento

da dor a que te exponho e a que me imponho,

neste mútuo querer de intérmino adiamento.

Gozemos ambos o prazer tristonho,

a ventura dolorida

de prolongar o sonho, que há no sonho

A realidade mais feliz da vida.

 

A lua desce numa poeira fina,

que os seres todos alucina,

que não sei bem se é cocaína

ou luar...

 

Fosse eu agora para a rua,

assim, tonta de lua...

 

Não é noite, nem dia.

Observo, com surpresa,

em toda a natureza

uma triste alegria.

Repara bem que paradoxo no ar,

que dolorosa orgia

em que a alma peca com vontade de chorar!

 

O meu amor por ti é uma noite de lua,

em que há quanto prazer, em que há tortura quanta,

Em que a alegria chora e a tristeza canta,

Em que, sem te possuir, sou toda tua...

 

O meu amor por ti é uma noite de lua,

misto de ódio e paixão com que repilo e quero

todo o teu ser de modo mais sincero,

fugindo-te e sonhando, a cada instante,

Palpitante

de gozo

meu corpo amado e amante.

 

Fosse eu agora para a rua...

Vagabundeia o luar tentando as cousas todas

para prolongamentos, para bodas...

 

Se chegasses, num lírico transporte,

Se chegasses, meu servo e meu senhor,

A vida que valerá e que valerá a morte,

Diante do nosso amor?

 

Ao teu abraço cálido e nervoso,

O etéreo tóxico entorpecente,

pela janela,

chega-me à boca, meus lábios gela...

Que frio ardente!

Embrulho-me num manto, olho o espelho: estou nua.

A alma fora de mim, zombando dos refolhos

em que me abrigo.

A alma a fugir-me pelos olhos,

ébria de pó de lua.

 

Sangrando luz, pendida a trança flava,

uma estrela do além se despenhava...

— Sorriste olhando-a, entristeci-me em vê-la...

 

Com a alma em fogo, pela noite fria,

em vertigens de amor eu me sentia

rolar no abismo como aquela estrela...

 

Gilka Machado, em "Meu Glorioso Pecado",  1928.

 


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por Dani Takase às 21:44
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Sábado, 21 de Agosto de 2010

... de rima, estrofe e verso.

É quando se tem cinco inocentes anos e a poesia é rimar amor com calor, ama com chama, amor com calor, olho com espelho, ana com banana. E hoje minha insensibilidade só me limita a esdruxular com toda a poética métrica, com a simbologia do ABBA, AABB, ABAB. Usar as mesmas palavras: sol, lua, chuva, amor, calor, sorriso, abraço, beijo, menina, mulher, praia, areia, pequena. O verbo querer em todas as conjugações, número, tempo ou pessoa. A verdade é que eu odeio poesia.

As linhas

Parecem

Todas

Incompletas

Há vazio

Frio

Come,

Devora,

Esvazia

E o fim

É não ter fim.

O dia em que eu chorar lendo uma poesia é o dia que eu me renderei e arrependerei de tanto desgostar e as lágrimas estarão ali pra comprovar. Mas a graça das palavras estão no encaixar. Sem sujeito, nem predicado. Pleta-incom. Perdeu o sentido, e a meus olhos a graciosidade e ferocidade.

Que me perdoem os poetas, o classicismo e até a contemporaneidade, mas as linhas completas numerosas e cheias e aqui vos dizem só estão sendo sinceras. Falar de amor e não ter amor. Falar de abandono e não ser abandonado. A sensibilidade do poema é o inimigo da verdade.

Mas aí me engano, e o poema sabe.

O poema sabe que o silêncio é seu pior inimigo.

E silencia.

E se cala.

E se acalma.

E te desespera.

E o fim

É não ter fim.

 

Dedicado a um filósofo grego cujo nome é aumentativo de plato.


por Dani Takase às 03:18
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